Quem Somos
Conheça a história do Judô no Ceará.
Nossa história começa na década de 40, quando aqui no Ceará reinava a arte suave (Jiu-Jitsu). Aquela mesma que foi repassada aos integrantes da família Gracie por Mitsuyo Maeda o “Conde Koma” no Pará na década de 20. Com a ida dos Gracie para o Rio de Janeiro, tiveram eles uma parada em Fortaleza, inclusive se estabelecendo aqui por alguns anos. No período de sua estadia por aqui os mesmos chegaram a organizar alguns eventos na cidade, descobrindo o interesse de várias pessoas pelas lutas corpo a corpo e vários talentos, entre eles, um em especial, Sr. Pedro Heméterio que veio a se tornar uma das sumidades do Jiu-Jitsu Nacional, e braço direito dos Gracie. Antes da chegada do Jiu-Jitsu no Ceará a única forma de luta aqui praticada era a luta Grego-Romana (Livre) que aqui chegou em 1928.
Com o passar do tempo alguns praticantes de Jiu-Jitsu mais graduados resolveram repassar aquilo que sabiam, isso ocasionou o surgimento de algumas academias, dentre elas três se destacavam: A do Prof. Nilo Veloso, do Prof. Soares e a do Prof. Herondino, esse último aluno do Prof. Pedro Heméterio. Na academia do Prof. Nilo Veloso uma das mais tradicionais, um aluno se destacava, seu nome era Milton Moreira, que na época exercia a profissão de alfaiate, mas era um aficionado por esportes de luta os quais acompanhava desde a chegada da Luta Livre aqui em Fortaleza.
Como na época o ensino do Jiu-Jitsu era bastante restrito, os alunos que desejassem aprender a lutar tinham de ser indicados por algum praticante para chegar até a academia, geralmente os treinos aconteciam a portas fechadas e raramente aceitavam-se visitantes, o Sr. Milton Moreira foi convidado pelo próprio Prof. Nilo Veloso quando numa conversa demonstrou o seu interesse em praticar o Jiu-Jitsu, isso ocorreu por que o Prof. Nilo Veloso era cliente da alfaiataria do Sr. Milton Moreira.
O aluno Milton chegou com algum tempo de prática a faixa marrom, e logo foi observado pelo prof. Nilo Veloso uma vocação especial do aluno Milton, ele tinha uma desenvoltura para ensinar, isso culminou na sua promoção a instrutor da academia, passando a assumir a academia quando a ausência do Prof. e como distinção dos demais faixas marrons da academia foi lhe dada uma faixa de cor vermelha.
Apesar do interesse do povo Cearense pelas lutas, várias dificuldades atrapalhavam o progresso das Artes Marciais no Estado, uma das dificuldades era a vestimenta usada nos treinos que vinha de fora e com isso seu preço era muito alto, mas o aluno Milton como era alfaiate se ofereceu em reproduzir os KIMONO em troca das mensalidades da academia, a outra dificuldade pior era a falta de tatame, pois eram improvisados com bastante criatividade usando bagaço de cana, papelão ou sisal recoberto por lonas de caminhão. Só algum tempo depois chegou ao Ceará alguns tatames de palha de arroz.
Aqui no Ceará em 1950, já se ouvia falar numa nova arte misteriosa chamada Judô, que era praticada no sul do país. Os comentários falavam que os praticantes de Judô não conseguiam ser projetados ao chão, e com isso os praticantes de Jiu-Jitsu do nosso estado se perguntavam ironicamente se os judocas não caiam por terem os pés muito grandes, ou por terem os pés pregados ao chão. Não sabiam eles que brevemente iriam conhecer uma das mais completas Artes Marciais.
Nos idos de 1958 bateu a porta da academia do prof. Nilo Veloso um senhor aparentando seus 48 anos, dizendo que estava interessado em participar dos treinos, pois vinha de uma longa estada no Rio de Janeiro onde tinha se iniciado na arte do Judô, como aqui ainda não existia nenhuma academia de Judô resolveu ele procurar uma academia de Jiu-Jitsu para prosseguir seus treinos tendo em vista terem os dois uma grande semelhança.
Seu nome era Antônio Lima Aguiar, Cearense, que residira no Rio de Janeiro onde teria aprendido o tal Judô até então desconhecido no Ceará, foi de grande interesse por parte dos alunos da academia que o Sr. Antônio Lima participasse dos treinos, pois os mesmos iriam conhecer a nova arte, o Sr. Antônio Lima deixou bem claro que sabia muito do judô tendo praticado por muito tempo, mas nunca chegara a se graduar, pois tinha uma enfermidade na perna que em toda véspera de exame para avaliação piorava, impedindo assim de ser examinado.
Ficou o Sr. Antônio Lima por dois anos na academia do prof. Nilo Veloso passando os seus conhecimentos no judô para os alunos da mesma, até que certo dia resolveu montar uma fábrica de camisas, porém não obteve sucesso na nova investida, e resolveu regressar ao Rio de Janeiro.
Durante um ano os alunos do Jiu-Jitsu aperfeiçoaram as técnicas aprendidas com o Sr. Antônio Lima, até que em 1961, chega em Fortaleza outro Cearense que também residia no Rio de Janeiro. E por coincidência seu nome era Antônio Lima Filho, mas não tinha nenhum parentesco com o anterior, o Sr. Antônio Lima Filho foi aluno do Professor Augusto de oliveira Cordeiro, um dos pioneiros do Judô nacional e o primeiro presidente da Confederação Brasileira de Judô, no Rio obteve a graduação de faixa preta NIDAN (2º grau).
Quando da chegada do Sr. Antônio Lima Filho, muitos adeptos do Jiu-Jitsu ainda se negavam a aceitar a nova modalidade de luta, pois contestavam sua eficácia, porém no decorrer dos treinamentos o Sr. Antônio Lima Filho demonstrou e comprovou a eficácia do Judô sobrepondo os atletas do Jiu-Jitsu, tendo em vista o mesmo ser integrante da equipe Carioca de Judô. Com o passar do tempo muitos adeptos do Jiu-Jitsu passaram a treinar Judô, porque ficou evidenciado que além de ser uma Arte Marcial, estava o Judô envolto em um princípio filosófico, didático, e moral e que sua prática tinha como objetivo não só o ensino de técnicas de lutas e defesa pessoal e sim a formação do caráter humano. Muitos atletas do Jiu-Jitsu comprovaram isso
na prática como está relatado neste diálogo de dois expoentes do Jiu-Jitsu da época:
Certa vez o Prof. Maranguape convida ao Prof. Abdias para irem treinar Judô:
- Abdias. Vamos para o Judô?
- Por que Maranguape?
- Por que? Por que o Judô é o Jiu-Jitsu e um pouco mais!
O Prof. Antônio Lima Filho permaneceu durante três (3) anos na academia do Prof. Nilo Veloso, no decorrer de 1964 se desliga da academia para montar a sua própria academia especializada no Judô. Neste mesmo ano é realizado o 1º campeonato misto de Judô e Jiu-Jitsu não oficial no Ceará com participação dos atletas do Judô e do Jiu-Jitsu, apesar das adversidades a competição teve um bom êxito.
O 1º judoca promovido à faixa preta no Ceará foi o Sr. Milton Moreira no ano de 1966, outorgado pela então Federação Cearense de Pugilismo, entidade a qual o Judô era afiliado por não ter federação própria. Em janeiro de 1967 é inaugurada a 2º academia de Judô do Ceará com nome de batismo de “Centro de Judô Cearense” a mesma pertencente ao Prof. Milton Moreira. Com a inauguração de mais uma academia, e com o aumento considerável de praticantes, o Judô já estava fincando raízes em nossa terra, o Judô agora necessitava de uma entidade que organizasse de forma centralizadora a prática do Judô no Ceará. Com esse propósito reuniram-se os professores e praticantes mais influentes para decidir a fundação da Federação Cearense de Judô. Tendo sido oficializado a fundação da mesma em 19 de outubro de 1969, passando então a partir desta data a se desvincular da Federação Cearense de Pugilismo.
A nova federação teve como seu 1º presidente o Dr. Agamenon Magalhães Advogado e jogador de vôlei, posteriormente assume o Dr. José Maria, que também era Advogado mas não praticava nenhum esporte o terceiro a assumir foi o Dr. Luiz Paiva que era Médico e Judoca, esse último só ficou no cargo durante seis meses, pois sua profissão exigia muito do seu tempo, com isso ele não podia se fazer presente nas reuniões, porém, Dr. Luiz Paiva pode-se dizer que foi um dos que mais contribuíram para o engrandecimento do Judô no Ceará, chegando diversas vezes a tirar dinheiro do próprio bolso para custear a ida dos atletas Cearenses para uma competição fora do Estado.
No ano de criação da federação foi realizado pela recém-criada entidade o 1º exame de faixas pretas no Ceará, onde foram promovidos os seguintes atletas: Hugo Hipardo, Mauri e Weligtom. Também em 1969 inicia no judô a primeira atleta do sexo feminino, filha do prof. Milton Moreira, Sra. Francineide Frazão, atualmente faixa preta, posteriormente em 1994 foi promovida a 1ª faixa preta do Ceará Sra. Maria Helenira.
Já em 1975 assume o cargo o Prof. Antônio Lima Filho permanecendo no cargo até 2000, o Prof. Lima foi agraciado em 1999 pelo então presidente da Confederação Brasileira de Judô, Sr. Joaquim Mamede, com a outorgação do seu 9º DAN (KYU-DAN), tornando-se um entre os pouquíssimos brasileiros com essa graduação e o único do norte-Nordeste.
Em 2001 assume a Federação Cearense de Judô o Prof. Milton Nunes Moreira, durante sua gestão procurou trabalhar em conjunto com toda a diretoria para que o Judô Cearense voltasse a hegemonia de outrora, visto que o Ceará era uma das potências do norte-Nordeste em décadas passadas. Essa mudança se iniciou com a aquisição novas áreas de tatame sintético, a compra de sede própria, incentivo na participação de atletas Cearenses em competições Nacionais, etc. Em 2004 as eleições para presidência foram canceladas por ordem judicial, sendo posteriormente designado um interventor, este período de intervenção judicial acabou em outubro de 2011, onde foi eleito como presidente Átila Cardoso (Nov/2011 à Mai/2014). Em 2017 assume a presidência, o Sr. José Caldeira Cardoso Neto (2017 à 2020), pedindo afastamento no início de 2020 assumindo o Sr. José Marcelo Moreira Frazão. Após realização de Assembléia Eleitoral (2021-2025) a Federação Cearense de Judô – FECJU, teve como presidente o Sr. José Marcelo Moreira Frazão, tendo falecido em 2021, assumindo atualmente a presidência o Sr. Amaurílio Marques Gomes na gestão 2021 à 2025.
Texto de Rafhael Sampaio Lopes - Faixa Preta Godan (5º Dan)
Contato: sampaiorafhael@gmail.com